O Marcelinho foi contemporâneo meu do movimento de jovens do Emaús. Todos notavam que ele era diferente. Tinha uma luz diferente. Parecia não ser deste mundo, mas aqui transitava com muita alegria. Tinha uma retidão em sua caminhada espiritual que era invejável. Suas falas eram sempre escutadas com atenção. Transmitia muita paz. Mas como logo me mudei de Florianópolis, por motivos profissionais, perdi a convivência com ele; e quando retornei ele já havia falecido. Mas foi exatamente depois da sua morte que sua “vida” teve um efeito revelador para mim.
Sempre fui uma pessoa em busca de Deus e de certa forma contemplativa, de fácil oração. Entretanto em abril de 2014 aquela presença constante de Deus em foi se dissolvendo, e eu entrei no que eu chamo de deserto. Eu já havia passado por desertos antes, e conhecia muito bem esta sensação. Nada mais me lembrava Deus, a contemplação não existia mais.
Este deserto durou exatos 2 anos. Em abril de 2016 eu já estava esgotada e sem saber mais o que fazer, e pedia muito a Deus que me tirasse daquela aridez profunda. Refletindo, hoje, penso que vários eventos contribuíram para o fim deste deserto, mas o que iniciou este processo em especial está ligado ao Marcelinho: no dia 25 de abril de 2016, movida por uma vontade inexplicável, fui visitar o túmulo do Marcelinho (coisa nunca havia feito isso antes).
Bem, lá estava eu diante do seu túmulo e de posse da sua oração. Confesso que foi uma experiência estranha. Não sabia ao certo o que fazer. Se rezava, falava ou pedia. Então me deixei levar, afinal já me sentia tão perdida mesmo. Sentei, rezei a sua oração e, como se estivesse conversando com um amigo, contei-lhe tudo o que me afligia.
Nada aconteceu. O céu não se abriu. Não vi o Marcelinho. Ele não sussurrou no meu ouvido. E do jeito que cheguei, fui embora. Eu e o meu deserto. Mas ainda naquele dia, recebo de uma amiga a biografia ainda não finalizada dele. Talvez a resposta que estava precisando: encontrar em seu exemplo a forma de sair deste deserto. Em três dias li a sua biografia, e assim, descobri a vida linda de santidade do Marcelinho. E alguma coisa começou a se transformar em mim. Por ter nascido em família católica, a ideia de conversão nunca me pareceu caber a minha pessoa. Mas hoje, mais madura, posso dizer que conhecer a vida do Marcelinho foi o ponto principal da minha conversão total a Cristo.
Desde então, sinto um chamado enorme para percorrer este caminho de santidade que o Marcelo tanto almejava. Muitas coisas foram lentamente mudando em mim. As coisas que já fazia antes, de ordem espiritual, começaram a me parecer pouco, e algumas práticas do Marcelinho passaram a fazer parte do meu cotidiano. Passei a compreender de uma forma inexplicável o Amor de Deus por nós, e intensifiquei a minha adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia. A cada dia queria progredir mais um passo. Além disso, passei a ter uma vontade inexplicável de trabalhar junto aos jovens dentro do ambiente universitário, iniciando com reuniões que abordavam questões éticas e morais, e hoje trabalhando com eles junto a Pastoral Universitária e o Movimento de Emaús.
E a cada dia com a intensificação da vida em oração e o propósito da santificação, muitas graças e consolos foram acontecendo em minha vida. Nunca Deus esteve tão presente em minha vida como sinto hoje, e creio eu que tudo iniciou por intermédio do Marcelinho. Dentre estas graças que atribuo a sua intercessão, uma em destaque: seguindo seu exemplo, parti em busca de um orientador espiritual. Esta empreitada durou uns três meses e muito me desanimou. Até que uma manhã, antes de ir para o trabalho, já cansada, fui novamente no túmulo do Marcelino e pedi ajuda. Ao sair dali em direção ao trabalho, quando passei em frente à Igreja da Trindade, senti um impulso enorme para entrar e me confessar. Estava atrasada para o trabalho, mas assim o fiz. A conversa com o Padre durou aproximadamente 1 hora, seguida, ao final, da confissão. E para a minha surpresa, quando finalizamos, ele me perguntou: “Queres vir aqui esporadicamente para uma orientação espiritual?”. Eu mal podia acreditar! Acabara de ganhar um orientador espiritual, como há muito desejava.
Eu creio que Cristo vive em cada um de nós. Mas é verdade também que a maioria de nós O esconde, seja por incompreensão, imaturidade espiritual ou por não conseguir dar vida a este Cristo. Mas o Marcelo não. Ele soube dar a sua vida ao Cristo de uma forma tão intensa e definitiva que deixava a todos impactados. Marcelo viveu o Cristo intensamente e meu coração se aperta de pensar que eu não tenha reconhecido isso enquanto ele estava entre nós. Mas o que mais me impressiona na vida do Marcelinho, é a sua obra pós-morte, sem dúvida alguma alargando ainda mais a sua obra em vida. Seu exemplo trazido, agora, à luz do dia revelando a sua intimidade com o Cristo tem tocado e convertido muitos corações, incluso o meu. E não é isso que são os Santos? Pessoas que nos falam e nos levam a Cristo, ainda que já estejam na plenitude dos tempos.