1979 – 2008
Jovem, leigo, professor, promotor de justiça, Marcelo Henrique Câmara deixou esta vida em 20 de março de 2008, uma Quinta-feira Santa, com fama de santidade.
Buscou santificar-se nos afazeres cotidianos, ordinários, em meio às realidades temporais, celebrando as alegrias e carregando as cruzes da sua existência, sobretudo identificando-se com o sofrimento redentor de Cristo no oferecimento da sua enfermidade (leucemia), vivida com alegria e paz cristã.
Sua vida retrata a essência da santidade como a abertura generosa e constante à graça de Deus, e nos abre os olhos para o verdadeiro milagre da caridade – realizar as atividades mais comuns, aparentemente sem qualquer transcendência, com o coração grande, voltado para Deus, conferindo-lhes, assim, valor de eternidade.
No começo deste terceiro milênio, em meio aos desafios de um mundo altamente materialista, individualista e secularizado, nos confirma que a santidade é um chamado para todos.
Tendo sido batizado em 11/08/1979, aprendeu as primeiras orações com sua bisavó materna, com quem muito pouco pôde conviver em razão da idade avançada. Devota de Nossa Senhora Aparecida, a senhora guardava em seu quarto muitas imagens de santos que fascinavam o pequeno Marcelo.
Filho mais velho de Julio Carlos Richard Câmara e Leatrice Pavan, recebeu dos pais excelente educação. O pai, sendo filho de militar, transmitiu- lhe regras de bom comportamento e ordem. A mãe, professora, teve influência direta no processo de educação do filho.
Desde muito cedo (por volta de 06 anos de idade), interessava-se por assuntos voltados ao bem comum (governo da cidade, bem estar do próximo), manifestando pensamentos ideais e praticando pequenas ações virtuosas.
Marcelo viveu em companhia dos pais até os 10 anos, quando, contra a sua vontade, enfrentou a separação do casal. O fim do casamento dos pais no ano de 1989 provocou uma grande mudança na sua personalidade, tendo-lhe forçado o amadurecimento pela dor. O menino de apenas 10 anos ao ir morar com a mãe e o irmão mais novo, Murilo Eduardo, passou a ter atitudes de um verdadeiro adulto na condução da família (preocupando-se com o trabalho da mãe, com os gastos da casa, etc.) sentindo-se responsável pelo futuro dos familiares, preocupação que o acompanhou por toda a vida. Recebeu a Primeira Eucaristia em julho de 1991.
Em embargo, a paixão pelo saber e a busca de uma intensa formação intelectual foram revolucionadas pelo profundo processo de conversão interior que se iniciou no segundo semestre da faculdade, quando aceitou o convite feito pelo saudoso Monsenhor Francisco de Sales Bianchini, então diretor espiritual do Movimento de Emaús em Florianópolis, para fazer a experiência de Deus através do Curso de Valores Humanos e Cristãos do Assim, o 50º Curso Masculino de Emaús, realizado no período de 28 a 31/08/1997 (no qual recebeu o sacramento do Crisma tendo por padrinho o Monsenhor Bianchini), proporcionou-lhe um encontro pessoal, único, com o Cristo Senhor, dando um sentido novo a sua existência e, consequentemente, à sua busca intelectual que passou a consubstanciar-se, sobretudo, no acesso à verdade dAquele com quem se encontrou.
No Movimento de Emaús, foi extremamente assíduo nas reuniões do grupo de jovens no qual participava, o grupo São Paulo, tendo sido, inclusive, seu presidente e por longa data, até quando precisou afastar-se por problemas de saúde. Era, também, palestrante assíduo nos cursos, nas reuniões de grupo e Escola Missionária do Movimento, bem como colaborador frequente nos programas do Movimento junto à Rádio Santa Catarina (rádio que antecedeu a Cultura enquanto emissora católica em Florianópolis).
Marcelinho, como era carinhosamente chamado pelos amigos, costumava saudar a todos desejando “Paz e Bem”. Estudioso profundo e autodidata da doutrina católica mantinha uma postura firme face às propostas ou ensinamentos contrários jamais transigindo com o erro em questões de fé e moral, esclarecendo as fontes bíblicas e magisteriais que revelavam o ensinamento correto, ao mesmo tempo em que o fazia com mansidão e humildade de coração.
Seu amor à Igreja foi intensificando-se. Esse amor levou-o a defender com heroísmo a Santa Igreja perante os colegas universitários e professores, todas as vezes em que era injustamente atacada.
Não obstante ser um jovem atraente pela boa aparência e riqueza interior, nutria um profundo respeito pela figura feminina na qual enxergava a beleza do Pai Criador, demonstrando, assim, um coração casto, puro de sentimentos e de atitudes. Após um brevíssimo namoro com uma jovem, percebendo a incompatibilidade do casal, encerrou o relacionamento amoroso entregando à moça um buquê de flores, em sinal de respeito e fraterna estima.
Marcelinho, como era carinhosamente chamado pelos amigos, costumava saudar a todos desejando “Paz e Bem”. Estudioso profundo e autodidata da doutrina católica mantinha uma postura firme face às propostas ou ensinamentos contrários jamais transigindo com o erro em questões de fé e moral, esclarecendo as fontes bíblicas e magisteriais que revelavam o ensinamento correto, ao mesmo tempo em que o fazia com mansidão e humildade de coração.
Seu amor à Igreja foi intensificando-se. Esse amor levou-o a defender com heroísmo a Santa Igreja perante os colegas universitários e professores, todas as vezes em que era injustamente atacada.
Não obstante ser um jovem atraente pela boa aparência e riqueza interior, nutria um profundo respeito pela figura feminina na qual enxergava a beleza do Pai Criador, demonstrando, assim, um coração casto, puro de sentimentos e de atitudes. Após um brevíssimo namoro com uma jovem, percebendo a incompatibilidade do casal, encerrou o relacionamento amoroso entregando à moça um buquê de flores, em sinal de respeito e fraterna estima.
Ainda que tenha cogitado a vocação sacerdotal, durante a faculdade decidiu seguir a carreira de Promotor de Justiça, em conjunto com sua grande paixão, a docência.
Os convívios itinerantes perduraram até que um dos sacerdotes da Obra, Padre Flávio Sampaio de Paiva, passou a vir quinzenalmente, e depois semanalmente, a Florianópolis, em virtude do crescimento dos frutos apostólicos, para os quais Marcelo contribuía com especial eficácia.
O ideal de santificação das atividades temporais cotidianas, sobretudo do trabalho profissional – preconizado por São Josemaria Escrivá – foi vivido intensamente por Marcelo na medida em que soube transformar as realidades humanas da família, da profissão, do estudo, do lazer, da amizade e do descanso, em locais privilegiados de encontro com Deus.
No desejo de conduzir e oferecer o trabalho profissional para Deus, Marcelo avançou na formação intelectual buscando sempre aperfeiçoar o conhecimento adquirido, não para sua vanglória, mas para poder melhor servir.
Marcelo não se deixou abalar pelo sofrimento e pela dor física e emocional de ver os entes queridos padecerem, transformando-os, como tudo em sua vida, em local de encontro profundo com o Senhor.
Mesmo doente, continuou a trabalhar e a estudar. Sua dedicação à docência e o seu esforço em permanecer em atividade durante o tratamento, rendeu-lhe a homenagem (póstuma) dos alunos da turma 2009.2 do curso de Direito do IES, que o elegeram “nome de turma”, por ocasião da cerimônia de formatura.
emorável, também, foi seu esforço em participar do 65º Emaús Masculino em 2005, quando em intervalo de internação hospitalar fez grande sacrifício para, em cadeira de rodas, poder palestrar sobre a Eucaristia e demonstrar seu amor sobre o mistério eucarístico.
Em crescente processo de amadurecimento da fé, em 1º de abril de 2006, durante um convívio na Chácara dos Pinhais, São José dos Pinhais/PR, pediu sua admissão no Opus Dei como supranumerário, afirmando ter encontrado a confirmação de sua vocação laical manifesta na convicção de que, o trabalho santificado e santificante, é parte essencial da vocação do cristão.
A certeza de poder servir a Deus através do trabalho profissional impeliu-o, mesmo debilitado pela doença, a estudar com afinco para enfrentar o concorrido concurso para o Ministério Público Estadual, o qual passou em 5º lugar, sendo nomeado em 20/03/2007. Assumiu o cargo, não sem antes enfrentar mais uma contradição: o prévio exame de saúde atestara sua capacidade para exercer a profissão. Todavia, o médico, não querendo assumir sozinho a responsabilidade, e, apesar de ter concluído pela perfeita possibilidade de Marcelo trabalhar, alertou a Comissão de Exame sobre o tratamento contra a doença, o que já era de conhecimento da Comissão. Após a designação de junta médica, ratificou-se o exame anterior, e enfim, concluiu-se a nomeação.
Contudo, em virtude da piora do estado de saúde, Dr. Marcelo somente pôde atuar como Promotor de Justiça por cerca de 90 dias, tempo suficiente para demonstrar sua acurada consciência profissional (muitas vezes trabalhando além do expediente para dar conta do volume excessivo de trabalho), o otimismo que o mantinha sereno e confiante ante os desafios e o cotidiano penoso da Vara Criminal de São José (considerada uma das mais volumosas do Estado), e, sobretudo, seu profundo amor ao ser humano, a quem enxergava a imagem do Senhor.
Este respeito incondicional à humanidade presente em cada pessoa restou evidente na ocasião em que, após obter uma justa condenação para o autor de um delito, fez algo inusitado: foi em busca do apenado a fim de dar-lhe conselhos, para que dedicasse o tempo que passaria no cárcere a refletir sobre sua vida e, principalmente, buscasse a Deus. Assim, foi além do que lhe era exigível, ou seja, mais que justo (trabalhou competentemente), foi caridoso (preocupou-se com a alma do próximo, sem olhar tanto para seus erros, mas também sem compactuar com eles ou diminuir-lhe a responsabilidade por seus atos e a correspondente necessidade de reparação, conforme a justiça dos homens). Tal detalhe de caridade somente veio a público durante a homilia da Missa de Sétimo dia, quando o celebrante contou o fato, que Marcelo, humildemente, deixou escondido (tinha confidenciado à avó paterna).
Marcelo buscava a perfeição nos seus afazeres, por amor, porque sabia que isto era agradável a Deus. Conseguiu, em meio a suas atividades profissionais, à vida social e à dor, manter a alma contemplativa, a presença de Deus, através do cumprimento heroico de um plano de vida que comportava, dentre outros compromissos, a diária recepção da Eucaristia, a oração do terço e a meditação, bem como a busca periódica da direção espiritual e da confissão.
Neste espírito, sobreveio a última internação no final de fevereiro de 2008, à qual não pôde mais resistir. E assim, no dia 20/03/2008, em uma quinta-feira santa, exatamente um ano após sua nomeação como Promotor de Justiça, veio a falecer, sendo enterrado na sexta-feira santa, 21/03/2008.
Na Missa de sétimo dia, Monsenhor Bianchini, emocionado, aconselhou os presentes a não rezar pelo Marcelo, mas sim, a pedir sua intercessão junto a Deus, porque era verdadeiramente um santo.
Há notícias de graças alcançadas pela intercessão do Marcelo, vindas de diversas cidades e estados do Brasil, bem como de diferentes países (Portugal, Itália, Inglaterra, México, Peru, Timor Leste, Eslovênia, Espanha, Japão).
No dia 08 de março de 2020, em um clima de profunda piedade, foi instaurada a Sessão Solene do Tribunal Eclesiástico para abertura do processo de beatificação do jovem leigo Marcelo Henrique Câmara. Neste dia, cerca de 1500 fiéis acompanharam a sessão que foi realizada no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, bairro Ingleses, em Florianópolis, paróquia a que Marcelo pertencia. Ao final da Santa Missa, os restos mortais do Servo de Deus foram trasladados para o túmulo preparado dentro do Santuário, para facilitar o acesso à devoção privada dos fiéis.
Marcelo Henrique Câmara, presente de Deus para as pessoas que com ele conviveram e para toda a Igreja, foi, pela completa correspondência à Graça, uma presença de paz e alegria de Deus na terra. Na confiança de que se encontra junto de Deus, sem com isso querer antecipar o juízo da Igreja, que se recorra privadamente à sua intercessão.
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